por Igor Chastinet
(igorjcpinho@gmail.com)
“Porque não temos que lutar contra carne e sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais”
(Efésios 6.12)
Realmente existe uma luta pessoal entre Deus e o diabo?
Pelo menos não exatamente. Esta visão distorcida permeia o cristianismo há vários séculos. Muitas pessoas crêem que existe uma luta pessoal entre Deus e o diabo. Porém, esse conceito está no mínimo distorcido ou mal colocado. Como podemos ler acima, as Escrituras deixam claro que a realidade espiritual não é exatamente esta. A Bíblia revela que a luta que está sendo travada não é pessoalmente entre Deus e o diabo, pois Deus não conhece inimigo à altura para desafiá-Lo, já que o Seu poder é infinitamente superior. Mas na realidade a luta é entre a Igreja e o diabo. Em outras palavras, a realidade da guerra espiritual é esta: homens vs. hostes espirituais do mal.
A Bíblia revela que Deus permite esta guerra acontecer. Diante disso certamente muitos pensarão: “Se Deus é mais poderoso que o diabo, então por que Ele não dá um fim a essa guerra tão terrível?”. Simplesmente porque não foi Ele quem a começou. Esta guerra foi iniciada por pessoas que rejeitaram a sabedoria de Deus e foram atrás de seus próprios planos, por isso o inimigo adquiriu “legalidade” para influenciar e às vezes até mesmo controlar a vida dos que preferiram abandonar seu Criador. Apesar disso Deus limita a ação do inimigo, segundo Seus propósitos.
Porém, no tempo determinado pela Sua sabedoria Deus intervirá e porá um ponto final nesta guerra, dando a vitoria final aos que se arrependeram de seus caminhos egoístas, aproximaram-se Dele e permaneceram fiéis a Sua vontade. Até lá devemos usar o poder de Deus como escudo, permanecendo alerta contra os ataques do inimigo.
O efeito desta visão distorcida no meio cristão
Devido a esse conceito equivocado de que a guerra é entre Deus e o diabo, e que nada temos a ver com esta peleja, muitas pessoas que se consideram cristãs pensam que não precisam se preocupar com ela, crendo que Deus as protegerá a despeito de seu estilo de vida. Estes estão enganados por não conhecerem as Escrituras. Ora, se muitos vivem em desarmonia com a Palavra de Deus e na grande maioria das vezes não agem segundo o Seu padrão de santidade, nada mais natural do que sofrerem as conseqüências dessa rebeldia. Deus não tem obrigação de proteger aqueles que preferem viver em desobediência a Sua vontade, pois a todos Ele deu o direito de livre escolha.
Devido à ignorância em relação à nossa realidade decaída e da guerra espiritual que está sendo travada contra os homens, muitos cristãos levam uma vida espiritualmente derrotada e nem mesmo sabem o motivo de tanto sofrimento. É bem verdade que a vida do cristão não consiste somente em vitórias e triunfos, pois Jesus alertou que os cristãos passariam por aflições enquanto vivessem neste mundo alheio a Deus (João 16.33). Mas daí a viver uma vida de constante sofrimento é algo que foge totalmente a vontade de Deus. O cristão pode até passar por momentos difíceis em sua caminhada, mas não deve viver assim. “Passar” significa momento e não um estado prolongado ou definitivo. A Bíblia declara que os verdadeiros filhos de Deus são pessoas vitoriosas (Romanos 8.28).
Um dos motivos do sofrimento humano se dá pela ignorância generalizada de que existe em torno da realidade da guerra espiritual. Segundo a Bíblia, existem guerras no mundo sendo travadas não somente na área física (as quais podemos ver com os olhos naturais), mas também existem grandes conflitos sendo travados na esfera espiritual. Por isso são invisíveis aos olhos humanos. Aqueles que não tomarem as armas que Deus nos oferece continuarão sendo atingidos inadvertidamente. As Escrituras revelam: “Porque as armas da nossa batalha não são carnais, mas, sim, poderosas em Deus, para destruição das fortalezas” (2 Coríntios 10.4). De acordo com esta passagem bíblica, as armas que devemos usar nessa guerra não são carnais, mas sim espirituais. Ora, se a guerra é espiritual, logicamente que só é possível vencê-la com armas igualmente espirituais. Obviamente que é impossível atingir um inimigo invisível usando armas físicas. Somente as armas espirituais têm o poder de destruir as fortalezas satânicas.
As armas que Deus oferece aos Seus Filhos
A Bíblia claramente revela que apesar de Deus permitir a guerra espiritual contra a Igreja, Ele não nos deixa na mão. Apesar de a guerra espiritual ser entre os homens e o diabo, Deus jamais fica de fora das batalhas. Isso porque é o próprio Deus quem nos concede as armas para usarmos nessa guerra. Está escrito: “Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo” (Efésios 6.11). Deus quer que sejamos vitoriosos, e para sermos bem sucedidos nesta batalha devemos nos vestir da poderosa armadura espiritual, para que assim possamos resistir aos ataques desses seres malignos.
Sendo a guerra espiritual uma realidade para todos os homens, não podemos permanecer inertes a ela. Apesar de não podermos fugir dela, Jesus nos disse algo muito importante: “Eis que vos dou poder para pisar serpentes, e escorpiões, e toda a força do Inimigo, e nada vos fará dano algum” (Lucas 10.19). Se observarmos o contexto desta passagem, veremos que os discípulos de Jesus voltavam felizes de uma “missão”, revelando a Jesus que os demônios os obedeciam sempre que eles invocavam o Seu nome (Lucas 10.17). Em Marcos 16.17, Jesus disse que estes sinais seguiriam os que cressem em Suas Palavras.
Poucos cristãos conhecem a autoridade que possuem sobre as forças espirituais do mal, isso se deve ao pouco conhecimento das Escrituras Sagradas. Jesus falou acerca da realidade espiritual não para nos assustar, mas para que pudéssemos estar alertas conta seus ataques. Talvez seja por isso que muitas pessoas vivem espiritualmente oprimidas, dominadas por depressões profundas, desânimo constante e sentimento de vazio interior. Jesus disse que o diabo é real e está ativo no mundo. Porém, como vimos acima, o Senhor Jesus nos concedeu autoridade sobre os demônios. É como se Jesus nos passasse uma “procuração espiritual”, nos concedendo autoridade de expulsar o mal de nossas vidas. De acordo com a Bíblia, existem hostes da maldade guerreando contra os homens. Poucos sabem, mas há poder espiritual no nome Santo de Jesus. Devemos usar essa autoridade para repreender diariamente toda interferência satânica em nossas vidas, ou continuaremos sendo vítimas desses seres.
Mas por que será que muitas pessoas, inclusive cristãos fiéis, ainda desconhecem ou ignoram a realidade da guerra espiritual? Novamente alerto que isso se deve ao fato de que muitos não estão dando a devida atenção as Escrituras Sagradas. De outro modo certamente se preparariam para as batalhas espirituais, fazendo o que o apóstolo Paulo sugeriu séculos atrás: “Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, havendo feito tudo, ficar firmes” (Efésios 6.13). Pouco adianta afirmar que cremos em Deus se não cremos em todas as Palavras que Seu Filho revelou. Na guerra espiritual devemos estar constantemente alertas e vigilantes.
Compreendendo a Batalha Espiritual
Todos os cristãos devem conscientizar-se de que estão envolvidos numa guerra contra as hostes do mal, que habitam nas regiões espirituais (Efésios 6.12). Todo cristão deve saber que sua vida com Cristo é um campo de batalha. E como essa guerra é travada somente em nível espiritual, não é possível enxergá-la com nossos olhos carnais, mas somente pelos olhos espirituais. Apesar de ser uma guerra invisível, se observarmos o que se passa neste mundo, é possível notar que ela é bem real e ativa. Se ligarmos a TV por alguns momentos, observaremos um mundo alheio a Deus e dominado pelo mal, isto é reflexo direto da ação de satanás na vida das pessoas.
Como podemos notar, existe uma batalha espiritual em andamento nas regiões celestiais. E todos os homens, conscientemente ou não, diretamente ou indiretamente, participam desta batalha. Por isso devemos tomar as armas que Deus nos oferece para que assim não sejamos derrotados. O “x” da questão é que a verdadeira guerra que devemos travar não é contra “carne e sangue”. Isto quer dizer que não adianta guerrearmos uns contra os outros, pois a real guerra que devemos travar não é humana, mas espiritual. Os homens devem mudar o foco e guerrear contra o verdadeiro inimigo: satanás. Devemos unir forças para guerrear usando o poder espiritual que Jesus nos concedeu, desfazendo as obras do mal em nossas famílias e na vida das pessoas com as quais convivemos.
Para enfrentarmos as batalhas diárias, devemos pedir ao Espírito Santo que nos “vista com a armadura de Deus” para que possamos neutralizar as setas malignas que são disparadas constantemente contra nós e nossas famílias. O apóstolo Paulo nos mostra a lista dessas armas e acessórios (Efésios 6.10-18):
1- O cinturão da verdade (vers. 14).
2- A couraça da justiça (vers. 14b).
3- Os sapatos da pregação do evangelho de Cristo (vers. 15).
4- O escudo da fé (vers. 16).
5- O capacete da salvação (vers.17).
6- A espada do Espírito, que é a Palavra de Deus (vers. 17b).
Se observarmos toda a lista de Efésios 6.10-18, perceberemos que temos disponível outra importante e poderosa arma para usarmos na guerra espiritual. O uso desta arma é fundamental no campo de batalha em que estamos inseridos. Esta arma chama-se: oração (vers. 18). Devemos fazer orações não somente a nosso favor, mas também em favor das pessoas que conhecemos e que se encontram presas a uma vida destrutiva e contrária a vontade de Deus, escravizados por espíritos malignos. Devemos usar a oração como “arma de ataque” para que o poder de Deus possa operar através de nós. Sem uma vida de oração não haverá vida espiritual vitoriosa (Colossenses 4.2).
Os três maiores inimigos dos cristãos
Na guerra espiritual, todos os cristãos enfrentam três grandes inimigos: o mundo, a carne e o diabo (Efésios 2.1-3). O “mundo” refere-se ao estilo de vida pecaminoso que podemos observar ao nosso redor, que se opõe diretamente a Deus e Seus padrões de conduta. A “carne” são as vontades corrompidas de nosso corpo, ou seja, é a natureza humana pecaminosa, que por si só é incapaz de agradar a Deus e obedecer-Lhe (Romanos 8.7,8). A “carne” é a nossa natureza pecaminosa decaída, herdada de Adão (Romanos 5.12).
Quem é o diabo (ou satanás)?
O “diabo” é o principal inimigo dos homens. Ele é o líder das hostes malignas, o primeiro a se rebelar contra Deus, ainda antes de o homem ser criado. O diabo possui vários nomes (satanás, belial, belzebu, etc.). Cada nome que a Bíblia lhe dá significa uma característica de sua personalidade. A palavra “diabo” significa “acusador”. Essa é uma das suas principais características, o diabo nos tenta a pecar e depois nos acusa diante de Deus, para que soframos a condenação. “Satanás” significa “adversário”, pois ele é inimigo de todos os homens, tentando prendê-los a uma vida destrutiva e pecaminosa (2 Timóteo 2.26). Jesus disse que Satanás age com um tríplice propósito: matar, roubar e destruir (João 10.10).
O diabo é chamado de “tentador” e “homicida” (Mateus 4.3; João 8.44). A Bíblia compara o diabo a um leão que ruge, que anda ao derredor procurando “brechas” na vida dos que não se submetem a Deus, para levá-los a destruição (1 Pedro 5.8). Ele também é comparado a uma serpente devido a sua astúcia, malícia e sagacidade (Gênesis 3.1). A Bíblia também diz que às vezes o diabo se disfarça de “anjo de luz”, isto é, se disfarça de servo de Deus para enganar os cristãos imaturos, que ainda não estão bem alicerçados na Palavra de Deus (2 Coríntios 11.13-15).
O diabo também é citado na Bíblia como “o deus deste século” (2 Coríntios 4.4), isso porque ele trabalha cegando o entendimento das pessoas para que elas não compreendam a verdade revelada por Cristo, e jamais venham a entregar-se a Deus. O conhecimento da verdade conduz a aproximação dos homens a Deus, por isso que as hostes do mal trabalham arduamente para que as pessoas permaneçam longe da verdade de Sua Palavra. Jesus disse que quando as pessoas conhecem a verdade de Deus revelada por Ele, o diabo passa a perder sua força espiritual sobre elas, e isso significa o início de sua derrota (João 8.32,36). É por isso que a verdade tem o poder de nos libertar.
Ao diabo foi permitido controlar aqueles que estão alheios a Deus (Efésios 2.2,3). O apóstolo Pedro disse: “Sabemos que somos de Deus e que todo o mundo está no maligno” (1 João 5.19). Aqueles que não se submetem ao Senhorio de Cristo, que seguem o “mundo” e o seu estilo de vida pecaminoso, automaticamente fazem do diabo o seu mestre. O apóstolo João disse que não há como seguir o estilo de vida mundano e amar a Deus ao mesmo tempo (1 João 2.15-17). Inevitavelmente temos que fazer uma escolha, segundo o apóstolo Paulo não há como se assentar à mesa do diabo e à de Deus a um só tempo (1 Coríntios 10.21). Esta decisão determinará a quem servimos realmente.
O texto de Efésios 6 indica a existência de um exército de criaturas demoníacas que ajudam satanás em seus ataques contra os homens. A Bíblia dá a entender que um terço dos anjos criados por Deus caiu junto com satanás, na sua rebelião contra Deus (Apocalipse 12.4). Constantemente o diabo age tentando jogar uns contra os outros, pais contra filhos, maridos contra esposas. Ele aprisiona muitas pessoas na vida pecaminosa, provocando destruição de vidas. Satanás possui um exército organizado, que trabalha incansavelmente para realizar seus propósitos diabólicos.
Os cristãos devem vestir suas armaduras e lutar!
As instruções do apóstolo Paulo nos mostram que o diabo é um inimigo forte e poderoso (Efésios 6.10-12) e que precisamos do poder de Deus para enfrentá-lo e derrotá-lo. O apóstolo Tiago nos dá a dica de como vencê-lo: “Sujeitai-vos, pois, a Deus; resisti ao diabo, e ele fugirá de vós” (Tiago 4.7). A obediência é a chave para neutralizarmos a ação do diabo. Quando o cristão se submete a Deus, obedecendo a Sua Palavra, o diabo fica sem ação, impotente de nos fazer pecar. O diabo pode até nos tentar, mas é só, pois ele não pode nos obrigar a desobedecer a Deus. Se o fizermos é porque queremos, pois Deus oferece a todos o direto de escolha (livre arbítrio).
Não devemos jamais subestimar a astúcia e o poder do diabo, ele está sempre tentando nos fazer pecar, armando-nos armadilhas constantes. Uma de suas características é a persistência. Jesus acusou o diabo de ter se rebelado contra Deus, e chamou-lhe de assassino, de mentiroso e pai da mentira (João 8.44). Por isso devemos usar a Palavra de Deus como escudo de proteção contra as suas ciladas. Esta é a única forma de não cairmos na mesma condenação do diabo, pois ele já foi julgado e aguarda a execução de sua sentença. Este dia já foi determinado por Deus, mas não revelado aos homens (Mateus 24.42; Apocalipse 20.10).
Portanto, devemos permanecer sóbrios e vigiar, lembrando que somente Deus pode nos proteger do maligno. A Bíblia revela que o fim de todas as coisas está próximo (1 Pedro 4.7). Jesus voltará para buscar os fiéis (1 Tessalonicenses 4.16,17). Aqueles que conscientes ou inconscientemente seguem ao diabo, permanecendo rebeldes a Deus devem arrepender-se e crer no evangelho! Aqueles que crerem nas Palavras de Jesus serão vitoriosos, pois somente Ele nos concede poder e autoridade sobre as hostes malignas. Deus promete ser um Pai zeloso a todos os que entregam suas vidas em Suas mãos, nos protegendo de todo o mal e nos cobrindo com o Seu cuidado paternal.
“Para isto o Filho de Deus se manifestou: para desfazer as obras do diabo”
(1 João 3.8).
“E sabemos que já o Filho de Deus é vindo, e nos deu entendimento para conhecermos o que é verdadeiro; e no que é verdadeiro estamos, isto é, em seu Filho Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna”
(1 João 5.20).
Jesus disse: “Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres”
(João 8.36)
Igor Chastinet.